Por Bruna Gonçalves Martins
São Paulo
Redes Sociais: A Revolução no Terceiro Setor
ONGs e instituições filantrópicas descobrem nas plataformas digitais uma nova forma de comunicar, captar recursos e engajar voluntários, transformando seu impacto social.

As redes sociais estão se tornando ferramentas indispensáveis para o terceiro setor. Crédito:Firefly
A ascensão das redes sociais trouxe uma revolução em diversos setores da sociedade, incluindo o terceiro setor. ONGs, fundações e instituições filantrópicas têm encontrado nessas plataformas uma maneira eficaz de se comunicar, angariar fundos e mobilizar voluntários. Essa transformação tem permitido a essas organizações mais autonomia, facilitando a realização de suas missões e ampliando seu impacto social.
O poder da comunicação direta
"Até recentemente, as organizações do terceiro setor dependiam fortemente de mídias tradicionais e campanhas caras para divulgar suas causas e engajar o público. Com as redes sociais, essa dinâmica mudou", disse a fundadora do Instituto Ekloos, Andréa Gomides, que atua no fortalecimento de organizações sem fins lucrativos e negócios sociais. Plataformas como Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn oferecem canais diretos de comunicação, permitindo que as ONGs compartilhem suas histórias, conquistas e necessidades de forma instantânea.
"Através das redes sociais, conseguimos alcançar apoiadores e voluntários que, de outra forma, não teríamos contato. Isso nos dá uma independência maior em relação aos meios tradicionais de comunicação e captação de recursos", afirma Áurea Carolina, diretora executiva do NOSSAS, organização que trabalha em defesa da democracia e dos direitos humanos.
https://www.instagram.com/reel/CwTNmIUIlCL/
Como exemplo, Áurea mencionou a campanha “A Eleição do Ano”. Com o objetivo de mobilizar a população sobre as eleições para os conselhos tutelares em 2023, o projeto teve uma ampla divulgação nas redes sociais e obteve um retorno significativo. "Tivemos 2,5 mil candidaturas em todas as regiões do Brasil e mais de 110 mil pessoas engajadas. 75% delas encontraram em quem votar. E o mais importante: tivemos um aumento de cerca de 25% no comparecimento da população às urnas, segundo o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania", finalizou a diretora do NOSSAS.

Crédito: A Eleição do Ano/NOSSAS
Outro aspecto importante é o fortalecimento da marca e a construção de uma identidade própria. Através de posts, stories, vídeos e outras formas de conteúdo, as organizações conseguem criar uma narrativa sobre suas causas e valores. "O uso de vídeos, imagens e textos curtos, aliados a hashtags e virais, aumenta o alcance e o engajamento. Essa comunicação direta não só fortalece a presença digital das organizações, mas também constrói uma relação mais próxima e transparente com seus apoiadores. Isso cria uma conexão emocional com o público, que é essencial para a fidelização e o apoio contínuo", reforçou Gomides.
Captação de recursos online
A autonomia financeira é um dos maiores desafios enfrentados pelo terceiro setor. As redes sociais têm se mostrado uma ferramenta eficaz para a captação de recursos, permitindo que as ONGs diversifiquem suas fontes de financiamento e reduzam a dependência de grandes doadores ou fundos governamentais.
Campanhas de financiamento coletivo são um exemplo claro de como as redes sociais podem transformar a arrecadação de fundos. Plataformas como Vakinha e Benfeitoria, integradas às redes sociais, permitem que as organizações alcancem milhares de doadores, cada um contribuindo com o que pode. "Essa estratégia não apenas amplia a base de doadores, mas também fortalece o senso de comunidade e pertencimento entre os apoiadores", comentou Andréa Gomides

Captura de tela do site Vakinha com resultados do termo “ONG” dentro da plataforma de financiamento coletivo. Crédito: Vakinha
Desafios e considerações éticas
Embora as redes sociais ofereçam inúmeras vantagens, também trazem desafios. "A desinformação e as notícias falsas são problemas constantes, que podem prejudicar a reputação e os esforços das ONGs. Além disso, a dependência excessiva dessas plataformas pode ser arriscada, visto que mudanças nas políticas das redes sociais ou algoritmos podem afetar o alcance e a visibilidade das campanhas", disse a fundadora do Instituto Ekloos.
A gestão de redes sociais requer conhecimento técnico, tempo e recursos humanos dedicados. Além disso, a constante evolução das plataformas exige uma adaptação contínua para manter a relevância e o engajamento do público. "Precisamos estar sempre atualizados com as últimas tendências e ferramentas para aproveitar ao máximo o potencial das redes sociais", alerta Luís Torres, especialista em marketing digital para o terceiro setor.
As questões éticas também são importantes. "A privacidade dos dados e o uso responsável das informações dos doadores e voluntários devem ser prioridades para garantir a confiança e a segurança dos apoiadores", complementou Josenir Teixeira, advogado especialista no terceiro setor.

As redes sociais proporcionam ao terceiro setor autonomia, permitindo que as ONGs se comuniquem diretamente com o público. Crédito: Firefly
Apesar dos desafios, o saldo é positivo. As redes sociais têm se mostrado aliadas poderosas para o terceiro setor, oferecendo liberdade para promover causas, engajar comunidades e arrecadar fundos. "Com o uso estratégico dessas plataformas, as ONGs estão mais capacitadas do que nunca para fazer a diferença e impulsionar mudanças sociais significativas", afirmou Andréa Gomides.